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Sala São Paulo

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Assim como o Orsay, museu parisiense dedicado ao Impressionismo, a Sala São Paulo ocupa uma estação de trem, a Júlio Prestes, que era a estação central da Estrada de Ferro Sorocabana, por onde safras de algodão e café do interior paulista chegavam à capital até os anos 1920. A única diferença com relação ao Orsay, no entanto, é que a Júlio Prestes ainda segue operando como uma estação da CPTM, o que torna a Sala ainda mais especial: essa dupla-ocupação do edifício neoclássico — do auge da música erudita ao transporte popular, dos notas puras da música ao barulho dos trens nos trilhos — aconteceu na década de 1990, quando o jardim interno da estação se converteu na mais incrível sala para concertos (construída exclusivamente para esse fim) da América Latina, que hoje é a sede da OSESP, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, e também do Cultura Artística, do Mozarteum Brasileiro e da Orquestra Sinfônica Brasileira.

Apesar de o local ter servido como estação de trem desde os anos 1870 em localização privilegiada — ao lado da bela “Inglesa”, apelido da Estação da Luz, até hoje em operação com trens e metrô —, o edifício que conhecemos hoje só foi construído nos anos 1930, sendo inaugurado em 1938. Quase vinte anos mais tarde, em 1954, seria fundada a OSESP, que ficaria por 50 anos sem uma sede, até que o governo do Estado de São Paulo atendeu ao pedido do maestro John Neschling, diretor da orquestra na época. Hoje, só na Sala São Paulo, são mais de 200 concertos por ano, entre apresentações sinfônicas, corais e de câmara.

A ACÚSTICA
Um dos destaques do projeto de “conversão” de hall de estação de trem para sala de concertos foi a preocupação com a acústica. As demandas físicas de uma apresentação de uma orquestra completa (que chega a ter 90 músicos; só quando for Wagner que o número de músicos pode passar de 100!) e de uma orquestra de câmara (com, no máximo 21 músicos) são bem diferentes. Assim, para alcançar a melhor acústica para cada tipo de espetáculo, foi construído um teto que contém no forro 15 placas móveis (que, dependendo da sua configuração, altera o tempo de reverberação do som) e, acima do forro, foram instaladas cortinas de veludo que são recolhidas ou esticadas conforme o ajuste sonoro que o maestro queira dar à sala. Toda semana, o maestro junto com um técnico de som avalia o melhor posicionamento do teto para o som do concerto dos próximos dias. Olhe para o teto e observe.

APRENDENDO SOBRE MÚSICA CLÁSSICA
Além das apresentações, a Sala São Paulo mantém um programa incrível para aqueles que quiserem conhecer mais sobre música clássica. Com o seu ingresso em mãos, antes de quase todos os concertos da temporada, basta chegar uma hora antes do início do espetáculo para assistir a uma aula sobre o programa que será apresentado em seguida. Se você quiser se aprofundar ainda mais, basta acompanhar o calendário de palestras e debates com maestros, solistas, professores e pesquisadores no Música na Cabeça — também gratuito — fazendo a sua inscrição na página com alguns dias de antecedência.

AS ASSINATURAS
Além da possibilidade de comprar ingressos avulsos, a Sala São Paulo oferece o sistema de assinatura para a temporada anual. São várias as opções de dias e horários, incluindo nove concertos em cada assinatura, que sempre leva o nome de madeiras brasileiras (cedro, mogno, imbuia, ipê, araucária).

OS MELHORES LUGARES
Apesar de na maioria dos teatros os lugares mais nobres serem a plateia, na Sala São Paulo é o Balcão Mezanino onde se tem as melhores vista e acústica da sala de concertos e, por isso, são os ingressos mais caros. Plateia central e plateia elevada também são ótimas opções. Eu só não gosto de sentar nas laterais porque me dói o pescoço ficar olhando para a orquestra. Apesar de um conhecido dizer que no coro, que fica atrás do palco, “se ouve tudo invertido, por isso são os ingressos mais baratos”, eu, que não sou um expert, também gosto de me sentar lá. Você escuta a música bem alto (mais os instrumentos que estão mais próximos de você) e consegue olhar o maestro de frente, observar suas expressões. A proximidade com os músicos também faz com que a gente consiga ver como eles acompanham a música, cuidam dos seus instrumentos enquanto não estão tocando, além de descobrir que o timbaleiro tem VÁRIOS tipos de bastãozinho para fazer sua percussão.

COMO IR
Ah, venha de carro. Vir à Sala São Paulo de metrô é pra quem não tem medo de andar no Centrão. Bares tocando forró, fumaça de churrasquinho, mendigos andando pela rua ou deitados nas portas dos prédios, homens e mulheres fumando crack na frente da Estação Pinacoteca, cheiro de xixi. A proximidade com a Cracolândia torna a região insegura. Melhor ir de carro (o estacionamento é super prático), táxi ou o combo metrô-táxi nos dias de muito trânsito (apesar de ser bem pertinho do Metrô Luz, o taxista vai ter de dar uma volta para chegar à Sala; ele não vai reclamar por ser uma corrida curta).

COMPRAS E COMIDINHAS
E chegue com antecedência para beber alguma coisa, comer e apreciar a arquitetura. Além do bar da própria Sala, que serve espumante, vinho, café e salgados, tem uma Dulca dentro da lojinha de livros e CDs onde você pode comer um doce e tomar um espressoTem também um restaurante com comidinhas bem gostosas, que lembra aqueles bons buffets de festas, com massas, carnes, risotos, sobremesas. Mas só fica aberto até começar o concerto. Vale a pena chegar antes para comer com calma. Só não coma muito pra não bater aquele soninho durante a apresentação.

Um concerto na Sala São Paulo pode ser um ótimo programa de várias horas.

Confira também a nossa matéria sobre etiqueta em concertos.
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Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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