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Courchevel: A gastronomia savoyarde, os vinhos e dicas de restaurantes preferidos que não custam uma fortuna

Courchevel fica na Savoia (em francês, Savoie), um departamento da região de Auvergne-Rhône-Alpes. Mas a Savoia de hoje era um pedaço do condado-depois-ducado-depois-reino  que pertencia à Casa di Savoia, uma das nobres famílias mais antigas da Europa — com mais de mil anos —, e abrangia não só esta região do sudeste da França (chegava até Nice, hoje na Provence), mas também parte do norte da Itália (o Piemonte) e o sudoeste da Suíça. Vittorio Emmanuele II, príncipe da Casa di Savoia e Rei da Sardenha, doou a Savoie para a França em 1860, em gratidão à ajuda de Napoleão III na unificação da Itália, país do qual ele seria o primeiro rei.

Por isso a gastronomia savoyarde, essa cozinha simples, rústica e bem calórica cheia de queijos derretidos que acalentam o corpo no inverno ainda mais rigoroso do alto das montanhas; pense em fondue, em raclette, em tartiflette, em charcuterie seca, sempre acompanhados de pães e batatas — ultrapassa as fronteiras francesas. O biscuit de la Savoie, por exemplo, é um bolinho seco bem parecido com os biscotti savoiardi, aqueles que são embebidos no café para o preparo do tiramisù; e a charcuterie é a mesma salumeria, tão tradicional no norte da Itália, sendo que cada região tem suas receitas próprias.

E como o nível de qualidade aqui é altíssimo (lembre-se que dos 31 hotéis Palace em toda a França, cinco ficam no minúsculo vilarejo Courchevel 1850, um dos cinco níveis que formam Courchevel), com restaurantes que somam 10 macarons Michelin, é bem difícil comer mal. Não deixe de provar os queijos da região, o beaufort, o reblochon e o tomme de Savoie, e terminar sua refeição tomando uma dose de génépi, o licor feito com a mais conhecida das plantas aromáticas que é símbolo dos Alpes, o génépi, um pequeno arbusto que cresce de forma selvagem nas montanhas entre 1500 e 3800 metros de altitude.

QUAL VINHO TOMAR EM COURCHEVEL E A HARMONIZAÇÃO PERFEITA COM OS QUEIJOS LOCAIS

Courchevel está a apenas 360 quilômetros das míticas vinícolas da Borgonha, mas dá para ser ainda mais local tomando vinhos da própria região da Savoie, de uvas pouco conhecidas dos brasileiros, como a jaquère e a roussane — chamada aqui de bergeron — que crescem nas encostas íngremes das montanhas alpinas. A grande maioria dos vinhos savoiardos são brancos e tranquilos, e há bons rótulos orgânicos e biodinâmicos. Pertinho de Chambéry — cidade que abriga a principal estação do trem TGV que é a porta da entrada para os Alpes franceses, a 50 quilômetros de Courchevel — estão os vinhos Chignin-Bergeron, um dos 15 crus (subregiões) que formam a apelação Vin de Savoie. São vinhos que harmonizam perfeitamente com os queijos beaufort e reblochon, dois dos queijos locais que formam as fondues savoyardes, junto com o emmental de Savoie e o abondance. Entre os bons rótulos de Chignin-Bergeron que já tomei estão o Exception, do Domaine Denis & Didier Berthollier, e tudo o que você encontrar do Domaine Philippe & Silvain Ravier. 

GENÉPI [Vilarejo] Chef  local, lareira e puro aconchego

Em Courchevel, você vai ter restaurantes estrelados impecavelmente decorados por designers tão famosos quanto os chefs, vai ter as franquias animadas da moda oferecendo sempre o mais do mesmo que inundam os Alpes, Saint-Tropez e Saint-Barth… Mas é o Génépi o meu restaurante favorito em Courchevel para jantar. O restaurante que leva o nome do licor feito com uma planta típica dos Alpes, o génépi, pertence há 30 anos ao chef Thierry Mugnier, que vem de uma família que vive no Praz — o nível mais baixo de Courchevel — há mais de dois séculos; um tempo quando a parte mais alta das montanhas era apenas lugar de pastoreio de vacas e ovelhas. Intimista e aconchegante, com direito à lareira acesa no salãozinho da entrada, cara de montanha (tem restaurante em Courchevel que parece balada russa) e comida bem feita, o Génépi é daqueles restaurantes com o chef sempre na cozinha, enquanto sua esposa, Cécile, é responsável pelo salão. Não tem como não amar. E o mais incrível é que agora o cardápio conta com mais opções vegetarianas. O meu prato preferido, o risoto de crozets (uma massa quadradinha típica da Savoie, na foto acima) com cogumelos chanterelle e fatias de queijo Beaufort, também típico da região, agora tem a opção com caldo de legumes ao invés do caldo de carne. Não deixe de provar também a millefeuille de legumes de inverno com creme de alcachofra e, óbvio, terminar a refeição com uma dose de génépi. Abre todos os dias para o almoço e para o jantar, com pratos que custam entre EUR 30,00 e EUR 65,00. Rua Park City, sem número, Courchevel 1850. O telefone para reservas é +33 (0) 4 7908-0863. Para acessar o site, clique aqui

LE CHALET DE PIERRES [Montanha] Almoço elegante nas pistas, com acesso fácil para iniciantes e acessível também de carro

Não tem almoço na montanha mais elegante em Courchevel. Ainda mais se você se sentar em uma das mesas nos salões internos do primeiro andar, belamente decorados com carpete, muita madeira e muitas almofadas, e vista para a pista de esqui. Uma das vantagens do Chalet de Pierres é que ele está acessível tanto por uma pista verde — a Piste des Verdons, ou seja, mesmo iniciantes não têm problemas para chegar — quanto de carro. Só é preciso saber que é preciso atravessar a pista de esqui a pé. Mas não se preocupe pois o restaurante está em uma área de baixa velocidade, só venha com calçados adequados para andar sobre a neve. No cardápio, pratos típicos da gastronomia de montanha revisitados de forma refinada, como uma deliciosa sopa de legumes assados que vem dentro de um pão que dá muita pena desperdiçar, servida por jovens garçons e garçonetes vestidos a caráter — com boinas, camisas xadrez e meias altas, que não combinam nada com a música do DJ — e um bufê de sobremesas no térreo irresistível, principalmente nas baixas temperaturas. Se precisar de alguma roupa quentinha, a loja da Moncler fica no subsolo. Reservas são altamente recomendadas pelo telefone +33 (0) 4 7908-1861. Os pratos custam entre EUR 50,00 e EUR 250,00, com algumas opções para duas pessoas, como as fondues. O Chalet de Pierres só abre durante a temporada de inverno, todos os dias, das 10h às 16h. 

LA TABLE DE MADAME [Vilarejo] Restaurante discreto e elegante, comida de montanha deliciosa em porcelanas de vovó

Instalado dentro do discreto hotel La Sivolière, em uma área residencial de Courchevel, La Table de Madame é um restaurante que, assim como o hotel, te faz sentir na casa de amigos. Até porque o restaurante fica no subsolo — sem qualquer placa de indicação, é preciso ser levado até lá —, ao lado de um bar aconchegante com lareira e grandes janelas com vista para a neve iluminada. No cardápio que muda a cada temporada, uma cozinha de montanha feita com os melhores ingredientes orgânicos, locais e sazonais, impecavelmente apresentada em porcelanas de vovó, e cheia de técnica e sabor. Não deixe de provar a sopa de Madame, com 12 vegetais, ou a sopa de cebola com massa folhada e queijo beaufort; a fondue; e a couve-flor assada com trigo sarraceno e creme de bergamota. (Claro, deixe espaço para as sobremesas impecáveis.) La Table de Madame abre todos os dias para almoço e jantar, e reservas são recomendadas. Os pratos custam entre EUR 30,00 e EUR 150,00 (para duas pessoas). O telefone para reservas é +33 (0) 4 7908-0833. O La Sivolière fica na Rue des Chenus, 444. 

LA CAVES DES CREUX [Montanha] Vista belíssima das montanhas em ambiente animado

Restaurante de altitude a 2112 metros acima do nível do mar, é como jantar no céu. Nos dias ensolarados, a vista da Cave des Creux é das mais impressionantes, seja das mesas do terraço seja da sala de espera com sofás baixos e confortáveis, e grandes janelas de vidro. Nos dias nublados, é como almoçar em meio às nuvens. O restaurante que fica na pista Creux, uma das mais famosas de Courchevel, é animado; decorado com uma pegada mais industrial com esquis antigos e até uma antiga gôndola utilizada para o transporte de esquiadores; tem uma bandinha descolada que passa cantando pelas mesas; e o cardápio é mais internacional, com muitas opções de influência asiática, bom para aquele dia que você quer comer algo diferente. O acesso é um pouco mais difícil, já que está acessível de esqui por pistas azuis-avançadas-quase-vermelhas, subindo pelos teleféricos L’Aiguille du Fruit, La Vizelle ou La Saulire — é preciso se orientar com o mapa para chegar de esquis —, ou em 40 minutos a pé a partir do Altiport de Courchevel pela rota para pedestres intitulada Creux. Os pratos custam entre EUR 25,00 e EUR 60,00. A Cave des Creux só abre de dezembro a abril, todos os dias, das 10h às 17h, e reservas são recomendadas pelo telefone + 33 (0) 4 7907-7614. 

LA POMME DE PIN [Centro] Ski-in-ski-out, melhor vista para o almoço

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Esse restaurante ski-in-ski-out  no terraço do topo do hotel Pomme de Pin tem uma das melhores vistas de Courchevel. O cardápio é simples e leve (perfeito para o almoço durante a prática de esportes) e ainda tem umas poltronas onde você pode dar uma relaxada e fazer a digestão, antes de pegar os seus esquis e seguir pista abaixo. Rue des Chenus, sem número, Courchevel 1850. Telefone 04 7908-3688. Nas imagens: 1. A vista do terraço do restaurante (que também tem um salão fechado) para o vilarejo de Courchevel e as montanhas; 2. O terraço é acessível da pista, é só deixar os seus esquis nesta entrada informal e almoçar; 3. Pão com manteiga Échiré e dose reforçada de proteína com salada para seguir esquiando. Fotos: Shoichi Iwashita

Matéria originalmente publicada em novembro de 2016 e atualizada em dezembro de 2023.

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Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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