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Londres, o começo

Ao olhar para a civilidade dos londrinos na atualidade (sem que estejam bêbados, claro), é difícil imaginar que as bases de sua cultura (o idioma, o sistema de leis, a religião) não tenham vindo dos civilizados romanos, mas sim dos saxões, um dos povos mais bárbaros, mercenários e assassinos que a nossa história já conheceu.

ROMA FUNDA LONDRES
Londres foi fundada pelos romanos em 44 a.C., quando o Império invadiu a Bretanha e tomou conta da ilha. Durante o reinado expansionista de Trajano (de 98 a 117), o território sob domínio dos romanos chegou até onde é hoje a fronteira da Inglaterra com a Escócia (onde foi construída a muralha de Adriano, que delimitava o extremo norte do Império, cujas ruínas podem ser visitadas até hoje; aliás, a história de Adriano, sucessor de Trajano, merece uma matéria à parte).

No século 2 d.C., Londinium (como Londres era chamada), no seu auge, substitui Colchester como a capital da Bretanha Romana — ou em latim, Britanniatornando-se assim capital provincial mais distante da capital do Império, Roma. Mas, apesar de os bretões (povo que habitava a Bretanha, como era conhecida a ilha na época de Jesus) terem absorvido bastante a cultura, o estilo de vida e os costumes romanos, pouquíssimas — ou nenhuma — características dessa época sobreviveram (talvez uns pedaços de muro na City, hoje coração financeiro da cidade).

No século terceiro, a recessão e as instabilidades políticas provocam o enfraquecimento de Roma, tornando a administração de seu extenso império (que ia da Escócia ao Iraque, descendo pelo Egito e chegando ao Marrocos) cada vez mais difícil, abrindo espaço para revoltas internas e, principalmente, para a invasão de tribos bárbaras.

E AÍ, CHEGAM OS SAXÕES…
Os saxões, bárbaros vindos da Germania, chegaram aos poucos. Eles, guerreiros, soldados mercenários altamente militarizados, haviam sido contratados para defender os bretões (romanos) de um outro povo bárbaro do norte, os pictos. Pobres bretões. A ambição dos saxões por poder e terras fez com que eles começassem a tomar e invadir as cidades bretãs, empurrando seus contratantes cada vez mais para o oeste (onde hoje é a Gália, ou em inglês, Wales), até que os bretões desaparecessem por completo. Como? Os bretões eram sempre brutalmente assassinados quando as cidadelas eram invadidas ou eram oferecidos aos deuses pagãos em rituais de sacrifício.

… QUE VIERAM PARA FICAR, ATÉ QUE…
Foram 350 anos de invasão romana, mais 600 anos de muito sangue em disputas saxãs e também com os vikings (outro povo bárbaro, bárbaro, bárbaro, no sentido mais amplo do termo) pelo controle das regiões da ilha. Mas também com grandes avanços. Até que em 1066, Guilherme da Normandia (ou em inglês, William — não entendo até hoje por que Guilherme quer dizer William…), um francês, parente de Edward the Confessor (que não deixou herdeiros), numa briga pelo trono, invade a Inglaterra e mata Haroldo II, cunhado de Eduardo, o Confessor, que toma a coroa um dia depois de sua morte. Os franceses, ou melhor, os normandos (a França como país ainda não existia) passam a dominar e impor seus costumes aos anglo-saxões, num controle que duraria alguns séculos e redefiniria a história da ilha.

Com um reino já consolidado e o poder centralizado, o que vemos a seguir é uma sucessão de muitos reis e rainhas, histórias e personagens fascinantes (Alfredo o Grande; Henrique VIII, suas amantes e sua filha Elizabeth I; Cromwell; Rainha Vitória), algumas grandes tragédias (pragas que dizimaram a população; o Grande Incêndio de 1666; os bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial), muitos fatos importantes (o rompimento com a Igreja Católica; o Imperialismo Britânico; a Revolução Industrial) e grande influência sobre a cultura em todo o mundo (de Shakespeare à minissaia, passando pelos Beatles).

Todas essas histórias — e muitas outras — fazem com que Londres, a capital do Reino e uma das capitais do mundo, esteja sempre se reinventando, concentrando em suas ruas, seus museus e em seu povo toda a força e os reflexos do seu difícil e rico passado.

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

Joao disse:

Qual o dia da fundação de Londres

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