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Kabuki-za V

Para quem gosta de artes, assistir a uma peça do gênero kabuki no teatro Kabuki-za é uma das experiências mais incríveis do Japão. O kabuki, junto com o no, o bunraku e o buto, é um teatro tradicional japonês que (apesar de – ou justamente por – ser luxuoso, assim como a ópera, era destinado às massas) surgiu no século 18. Todos os atores (homens, já que mulheres até hoje não são permitidas) estudam praticamente a vida inteira para especializar-se em um único tipo de papel (algo impensável para a nossa dramaturgia ocidental). Os tecidos são fabulosos; os gestos, exagerados ou elegantíssimos; a dramaticidade com que atuam é de tirar o fôlego (não se consegue imaginar tamanha “intensidade” ao ver a placidez e a delicadeza dos japoneses nas ruas de Tóquio).

Como é falado em japonês antigo, mesmo que você fale japonês, alugue um tradutor simultâneo (em vários idiomas) para entender as falas. O que é incrível é que pelo próprio fone (que você coloca em apenas um ouvido) você também escuta a peça ao vivo, o que é perfeito, já que a tradução não compromete negativamente a apreciação da peça.

As peças – ou conjunto de peças – têm geralmente 4 horas de duração com vários atos (a programação começa pela manhã e vai até à noite), mas também pode-se comprar ingressso para um único ato, ou em japonês makumi  (só que esses ingressos só dão direito de assitir a peça no último andar do teatro, lá no alto do quarto andar, o que compromete a vista). Se estiver com tempo (eu sei que é raro), compre o bilhete integral em um lugar melhor, porque você não vai se arrepender. Deixe-se levar e ser envolvido pela história. Só não se esqueça de alugar o tradutor, porque sem entender a história, a peça vira um nonsense  total (as histórias – mitológicas, de honra e amor – têm às vezes uma lógica muito própria 🙂

O teatro, panteão do kabuki (todos os atores míticos passaram e estão aqui), foi inaugurado originalmente em 1889, mas um incêndio o destruiu em 1921, um terremoto destruiu sua tentativa de reconstrução em 1923, bombas o destruíram durante a Segunda Guerra Mundial em 1945, e sua última “destruição” foi em 2010 para ser reinaugurado em 2013 (por isso Kabukiza “V”: é a quinta “versão” do teatro) com toda a pompa, tradição e tecnologia sob a supervisão do starchitect  Kengo Kuma.

A não ser pelo prédio comercial de 28 andares construído atrás do teatro, as mudanças para o novo Kabuki-za foram mais estruturais que estilísticas. O teatro foi inteiramente destruído e reconstruído com as mesmas dimensões (mudou-se, no entanto, os materiais: todas as vigas que sustentam o teto, antes de madeira, e apesar de parecerem madeira hoje, são de alumínio); a sala de espetáculos possui exatamente as mesmas medidas, mas o fosso do palco está maior e as poltronas agora têm uma tela onde são exibidas informações sobre as peças e legendas; e o prédio do teatro hoje está melhor preparado para abalos sísmicos e, segundo Kuma-san, vai durar mais cem anos.

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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