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O guia definitivo dos melhores doces de Paris

Assim como você NUNCA vai encontrar em São Paulo restaurantes japoneses tão incríveis quanto em Tóquio, não há cidade no mundo para comer doces, na sua forma mais sofisticada, como Paris: berço desta arte abençoada por Saint-Honoré, o santo protetor dos padeiros e doceiros, que só foi possível existir graças à popularização do açúcar através das lavouras de cana da América Latina. Pâtisseries  antigas e tradicionais com quase 300 anos de idade (!) como a Stohrer (fundada em 1730), Debauve & Gallais (1800), Dalloyau (1802), Boissier (1827), La Durée (1862), Carette (1927), Lenôtre (1947) e La Maison du Chocolat (1977), a infinita criatividade dos novos chefs pâtissiers como Pierre Hermé, Sadaharu Aoki e Christophe Michalak, e ainda as casas de café e chá (Verlet, Mariage Frères) e as épiceries de luxe (Fauchon, Hédiard), que também oferecem ótimos e bem confeccionados doces, fazem de Paris a capital mundial das sobremesas… E todos esses consagrados nomes acabam sendo prazerosas e interativas atrações turísticas na cidade-luz para os amantes da gastronomia. No mapa abaixo, procure pelo símbolo do muffin roxinho.

Uma das unanimidades e um dos símbolos dessa arte em Paris é o macaron, um doce que teve sua origem provavelmente em Veneza, à base de farinha de amêndoas, que consiste em duas partes de uma massa leve e crocante — que lembra o suspiro — recheadas com creme, e pode ser feita nos sabores mais variados: de baunilha (o do La Durée é o meu preferido) a trufas brancas e azeite balsâmico, que o Pierre Hermé oferece quando na temporada. Você poderá encontrar ótimos macarons em todos os estabelecimentos citados na nossa lista. Outra unanimidade é o caramel au beurre salé, o caramelo com manteiga salgada, que eu adoro, mas que, apesar de ser um símbolo da França e ser tema de grandes receitas de chefs  como Christophe Michalak e Sadaharu Aoki, pode ser um sabor peculiar para quem apenas ama caramelo (por isso, preste atenção no cardápio na hora de pedir, principalmente sorvete, e veja se está escrito caramel  ou caramel au beurre salé; apesar de fazer parte da experiência provar ambos!). Ah, tem também o crème de marron, o delicioso creme de castanhas, que você pode pedir como recheio de uma crêpe  em qualquer lugar ou provar na sua forma mais sofisticada pedindo um Mont-Blanc  clássico no Angelina ou provar a releitura do Pierre Hermé (ambos os endereços você confere logo abaixo).

PIERRE HERMÉ [6éme, St. Germain-des-Près] Compra na loja, come na rua ou no hotel

Pierre Hermé, o mestre da pâtisserie francesaEsse é o primeiro ponto OBRIGATÓRIO do seu tour açucarado. E tem de ser nesta loja  porque nos outros pontos de venda, eles só vendem os chocolates e os macarons. O melhor jeito para provar as delícias do mestre dos mestres da pâtisserie é passar na loja, comprar um Ispahan, uma Tarte Infiniment Vanille ou Café, um 2000 Feuilles (receita patenteada pelo chef, que prova aqui que um excelente mil folhas NÃO PRECISA ser montado na hora para ter a crocância perfeita), alguns macarons e levar para o hotel e pedir para que eles montem sua mesa no quarto para que você possa prová-los comme il faut, com porcelanas e talheres (e ainda pedir um café ou chá). Ou pode pegar a sacolinha, encontrar um banco vazio na place  Saint-Sulpice (do ladin  da loja) e se lambuzar comendo um dos melhores doces de Paris de frente para fonte e a imponente igreja. Para saber tudo sobre Pierre Hermé, confira nossa matéria exclusiva, clicando aqui. 72 rue Bonaparte, quase esquina com a rue du Vieux Colombier, 6éme arrondissement, Saint-Germain-des-Près, 01 4354-4777. De segunda a domingo, das 10h às 20h. Metrô Saint-Sulpice.

LA DURÉE RUE JACOB [6éme, St.-Germain-des-Près] Serviço na mesa

La Durée, rue BonaparteDurée já foi globalizada, está em todos os cantos do mundo (da Arábia Saudita à Romênia passando por São Paulo, onde vende macarons  que vêm congelados da matriz francesa), mas ainda vale ser visitada na cidade-luz por causa de seus elegantes salões centenários et très-très français. Fundada em 1862 na rue Royale (com decoração original de Jules Cheret e revamp  de Jacques Garcia), a Durée foi um dos primeiros salões de chá de Paris, movimento que teve influência inclusive sobre a liberdade das mulheres (diferentemente dos cafés, as mulheres podiam frequentar os salons de thé  sem a companhia dos homens). Mas dos cinco endereços bem centrais na cidade (alguns são apenas lojas para comprar-para-levar), o nosso preferido é a loja e restaurante na esquina da rue Jacob com a Bonaparte, em Saint-Germain-des-Près, que ocupa o que um dia foi o antiquário de Madeleine Castaing: o aconchegante salão de teto baixo no primeiro andar (na foto, onde estão as janelas baixas com as floreiras) foi todo inspirado no estilo dessa que foi um dos maiores nomes da decoração do século 20, influenciando outros grandes mestres do estilo como Jacques Grange. A loja da Durée na rue Jacob, que além do salon de thé  tem um restaurante com teto de vidro, serve durante todo o dia omeletes, saladas, quatro tipos de club sandwiches  (vegetariano, frango, salmão e pastrami), três tipos de croque-monsieur, entradas, pratos e CINCO FOLHAS de cardápio de doces, sorvetes e sobremesas, o que é perfeito para um almoço rápido na região ou um snack  à tarde. E fica pertinho da Boutique Assouline. Para beber, uma ótima oferta de cafés, chás e infusões. 34 rue Jacob, na esquina com a rue Bonaparte, 6éme, Saint-Germain-des-Près, 01 4407-6487. De segunda a sexta, das 8h30 às 19h30; sábados, das 8h30 às 20h30; e domingos e feriados, das 10h às 19h30. Metrô Saint-Germain-des-Près.

SADAHARU AOKI [6éme] Compra na loja, come na rua ou no hotel

sadaharu-aoki-paris-1200Técnica pâtissière francesa e ingredientes japoneses que dão certo, mesmo se você não estiver acostumado aos sabores do matcha  (chá verde em pó utilizado na cerimônia do chá), kurogoma (gergelim preto), azuki (um tipo de feijão bastante usado na gastronomia japonesa). Mas não só: o tokyoïte  Sadaharu Aoki com sua precisão nipônica faz maravilhas com sua tarte au caramel salé  (um dos sabores quintessenciais da doçaria francesa). Todas as atendentes são japonesas. Para saber tudo sobre Sadaharu Aoki, confira nossa matéria exclusiva, clicando aqui. 35 rue de Vaugirard, entre a rue d’Assas e a rue Cassette, 6éme, 01 4544-4890. Segunda fecha; terça a sábado, das 11h às 19h; e domingo, das 10h às 18h. Metrô Rennes. Para a loja com o salon de thé todo branco, contemporâneo, tem de ir para a 25 rue Pérignon, no 15 éme, ao lado do metrô Ségur.

CHRISTOPHE MICHALAK AU PLAZA ATHÉNÉE [8éme] Serviço elegantíssimo na mesa

Christophe Michalak, chef pâtissier do Hotel Plaza AthénéeChef pâtissier celebridade e charmosão (com programa de TV e vários livros lançados), Christophe Michalak é, desde 2000, o responsável pela pâtisserie  do hotel Plaza Athénée (mas não do restaurante Alain Ducasse, onde quem assina as sobremesas é o chef  Thomas Croize; Michalak é responsável apenas na Galerie e pelo serviço de quarto do hotel), para onde eu vou, quando, por puro luxo, eu quero comer um doce incrível à 1h da manhã num lugar lindo e com direito a mármore, linho, porcelana, cristal e prataria no décor. Se for sua primeira vez, comece pela receita-assinatura do chef, a Religieuse caramel au beurre de sel, uma carolina IMPECÁVEL e recheio de caramelo salgado com pipoca caramelizada (não consigo pensar numa sobremesa que consiga ser mais perfeita em sabor, textura, apresentação). E aí, você tem os clássicos: mil folhas (mas com creme de três baunilhas: do Taiti, Madagascar e México), baba au rhum, mont-blanc, sorvetes e sorbets  e, das 14h às 19h, você ainda pode fazer uma degustação das receitas do Michalak com brioche e uma bebida quente por € 48 (R$ 220). Galerie au Plaza Athénée, 25 avenue Montaigne, 8éme arrondissement, 01 5367-6665. Todos os dias das 8h às 2h da manhã. Metrô Alma-Marceau. P.S. O chef abriu recentemente uma loja no Marais que ainda não fui conferir, mas já está na minha lista.

BERTHILLON [4éme, Île Saint-Louis] Pedidos e serviço na mesa, não aceita cartão de crédito (pas de cartes bleues)

Berthillon, sorvetes em ParisSe a gente ama a Itália por seus gelati  e sorbetti, em Paris você encontra uma opção local que não perde nada para seus vizinhos italianos (mas a GROM, que eu também adoro, tem um endereço aqui, na rue de Seine); mas aqui eles são glaces et sorbets (e o “sabor” do sorvete leva o nome poético de “parfum”, em francês). Nascida em 1954, nem na margem esquerda nem na margem direita, mas na avenida principal da pequena Île Saint-Louis, no meio do Sena, no coração de Paris, a Berthillon oferece três formas de ser experimentada: 1. você pode comprar o sorvete no balcão que dá para a rua e seguir explorando a charmosíssima ilha com seu cornet  em mãos; 2. entrar no salon de thé  anexo, onde você senta, é atendido — bem mais ou menos — na mesa e, além dos sorvetes, você pode também tomar um café, chá (Mariage-Frères) ou chocolate, além de comidinhas e outras sobremesas (incluindo um pain perdu  da casa); ou ainda 3. provar o sorvete em muitos dos cafés e brasseries  espalhados pela cidade que fornecem Berthillon (e você sempre verá o logo gótico estampado nos toldos). E é bem provável que você precise experimentar as opções bem mais limitadas de sabores nesses estabelecimentos (na matriz, são 70 parfums  no total, sendo 30 deles disponíveis no dia), já que a loja oficial só abre de quarta a domingo e não raro você chega lá e ela está fechada, sem qualquer explicação. Além disso, ela fecha durante todo o mês de agosto (onde já se viu uma SORVETERIA fechar por um mês no AUGE DO VERÃO?! :- ) 29-31rue Saint-Louis en l’Île, quase esquina com a rue des Deux Ponts, 4éme arrondissement, 01 4354-3161. A loja flagship  funciona de quarta a domingo, das 10h às 20h, quando está aberta. Metrô Pont-Marie.

ANGELINA [1er arrondissement] Salão elegante, pedidos e serviço na mesa

angelina-mont-blanc-chocolat-chaudDe frente para o Jardin des Tuileries, nas arcadas da rue de Rivoli e entre o hôtel Meurice e a livraria Galignani, o Angelina, esse salon de thé  sucesso desde a Belle Époque, é daqueles lugares frequentados por todo tipo de gente: de turistas a políticos, passando por elegantes senhoras parisienses (ok, mais turistas). Além de você provar os doces tradicionais (mil folhas, tortinha de limão, Paris-Brest, éclairs) e receitas da estação — que ficam expostos no delicioso balcão envidraçado logo na entrada — e as comidinhas muito bem feitas (do club sandwich impecável no sabor e na elegância, em várias configurações, às massinhas para aquela fome pós-exposições), você só não pode deixar de provar o chocolate quente l’Africain, feito com chocolate da Costa do Marfim, que é daqueles prazeres perfumados, aveludados e cremosos que ficam na memória. Outro doce-must é o Mont-Blanc, um merengue com leve chantilly  e vermicelles  (um espaguetezinho) de um purée  finíssimo de marron (castanha), que foi criado para a inauguração do Angelina, em 1903. 226 rue de Rivoli, 1er arrondissement, 01 4206-8200. De segunda a sexta, das 7h30 às 19h, e sábados, domingos e feriados, das 8h30 às 19h30. Metrô Tuileries.

STOHRER [2éme] Compra na loja, come na rua ou no hotel

stohrer-babaAqui não é nada fino e gastronômico como nos outros endereços que listei aqui. Mas eu gosto da Stohrer por que 1. fica na Montorgueil, uma charmosa rua de paralelepípedos exclusiva para pedestres, cheia de cafés, pequenos restaurantes, peixaria, mercearias; 2. é a pâtisserie / traiteur (eles também fazem comidas salgadas) mais antiga de Paris, fundada em 1730; 3. é daqueles lugares old-school  que não fizeram absolutamente NADA para se modernizar (sabe tipo cerejas em calda fincadas em abacaxi, tipo #vintage?) e que inventou o baba ao rum, esse bolinho embebido no rum, recheado de crème pâtissière  e uvas passas de Corinthe que você compra e sai comendo na rua (Nicolas Stohrer era cozinheiro da corte do Rei Stanislas da Polônia e quando a filha do rei se casa com Luís 15, ele se muda junto com ela para a corte de Versalhes, em 1725, abrindo sua loja cinco anos depois). 51 rue Montorgueil, 2éme arrondissement, 01 4233-3820. Aberto de segunda a domingo, das 7h30 às 20h30.

PARA CHOCOLATE EM PARIS

BOUTIQUE PATRICK ROGER BD ST GERMAINImpossível comer chocolate industrializado aqui. Se você é um aficionado por chocolate, Paris também pode ser um parque de diversões, com infinitas opções de chocolates de excelente qualidade, produzidos com matéria-prima proveniente dos melhores terroirs  do mundo, tratados com todo o respeito que merecem e oferecidos no formato de trufas, de bombons, de tabletes, de barras, até de esculturas. Os dois grandes nomes quando o assunto é chocolate são Pierre Hermé (de novo, com onze lojas espalhadas pela cidade) e Patrick Roger (na foto acima, com lojas nos principais endereços gastronômicos: na Madeleine, duas lojas em Saint-Germain-des-Près). A mais antiga, fundada em 1800, é a Debauve & Gallais, na 30 rue des Saints-Pères, em Saint-Germain-des-Près, pertinho do Café de Flore. E aí você tem o Marquis de la Durée, loja da marca especializada em chocolates, o Jean-Paul Hévin na Saint-Honoré, o Pierre Marcolini, com duas lojas em Saint-Germain-des-Près, o Chocolat de Alain Ducasse,  sem falar nas várias lojas da Maison du Chocolat, com a flagship  no boulevard de la Madeleine, no 9éme.

CHOCOLATE QUENTE

Para tomar chocolate quente, vá para o Angelina e peça o l’Africain; para a Galerie do hotel Plaza Athénée com duas versões, tradicional ou viennois (com chantilly); ou ao Café de Flore ou Deux Magots, cafés vizinhos em Saint-Germain-des-Près perfeitos para people-watching.

Com esses endereços, você só precisa conhecer e repetir e frequentar sempre que der vontade.

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

John Miller disse:

quem está salivando e não está em paris, pode saciar – muito bem – a vontade na douce france, al. jaú. nosso fabrice lenud não deixa por menos.

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