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Épice

O Épice fechou definitivamente em janeiro de 2016, mas esse texto ainda vale para entender o estilo de cozinha do chef  Alberto Landgraf. Os R$ 38 por uma caipirinha de vodca, os R$ 85 por um prato de frango, os R$ 35 por uma sobremesa não combinam nada com a decoração espartana do Épice (eu preferia a ambientação anterior). Pelo menos, assim como em restaurantes nos Estados Unidos e no Japão, o fato de eles não cobrarem pela água, que vem em garrafinhas e você pode pedir à vontade, com ou sem gás; e o couvert — com pães deliciosos, delicados e sempre quentinhos, mais azeite, flor de sal e manteiga —, a R$ 15, equilibram um pouco a conta. Ainda assim, premiado que é, o Épice não é restaurante para todos os gostos.

O chef  Alberto Landgraf, que já passou passou pelas cozinhas de dois grandes chefs  ingleses, Gordon Ramsay e Tom Aikens, é meticuloso na escolha dos ingredientes (o contato de todos os fornecedores está listado no site) e consegue resultados bastante precisos, tanto na combinação dos sabores quanto no cozimento perfeito de cada item e na apresentação dos pratos (que, por algum motivo que eu ainda preciso descobrir, sempre tem folhas de trevo por cima da comida). Sua cozinha é aquela que valoriza o sabor natural dos ingredientes, sem sabores arrebatadores (sem queijos, cremes e molhos, sem massas, sem muito sal): você entende o perfeccionismo do chef, a qualidade da matéria-prima, mas talvez por isso (ou não, não sei), não são pratos que perduram na memória, que te fazem voltar para comer novamente.

O Épice é para quem come de tudo. É preciso encontrar os pratos que tenham os ingredientes de que você gosta, para aumentar a probabilidade de você ficar feliz com a sua escolha. O cardápio enxuto e o uso de muitas carnes não-usuais (pescoço de cordeiro; barriga, joelho e pé de porco; miúdos de pato) e frutos do mar (polvo, mexilhões, vieiras) podem fazer com que vegetarianos (não há um prato principal sem carne e até as entradas em que predominam os legumes sempre levam algo como tutano ou vinagrete de barriga de porco) e pessoas com gosto mais restrito fiquem sem opções.

A única coisa de que eu nunca  consegui gostar no Épice são as sobremesas: me lembro de uma compota de pera com chocolate defumado e sorbet  de cenoura que eu não consegui nem terminar, mesmo adorando todos os ingredientes, ou de um picles de morango, com creme azedo, mel de Jataí, manjericão e leite seco, que eu terminei, mas não satisfez a minha vontade de doce pós-jantar, que eu fui buscar em outro lugar.
epice-restaurante-sao-paulo-jardins-1Mandioquinha assada com tutano, suco de agrião e farofa de avelã (R$ 33). Imagem: Shoichi Iwashita epice-restaurante-sao-paulo-jardins-2Polvo com milho doce, brócolis e um caldo de legumes servido na hora que derrete a pasta de alho negro no fundo do prato (R$ 91). Imagem: Shoichi Iwashita epice-restaurante-sao-paulo-jardins-3Alho-poró (R$ 31). Imagem: Shoichi Iwashita epice-restaurante-sao-paulo-jardins-4Frango (R$ 85). Imagem: Shoichi Iwashita

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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