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Crepes e galettes: qual a diferença dessas duas especialidades da Bretanha?

Em português, crepe é masculino. Em francês, é la crêpe. Galette, como a palavra não existe em português, vamos no francês mesmo, no feminino: la galette. Essas panquecas de massa fina (diferentes das pancakes americanas), leve e de fácil preparo, e cuja receita tem mais de 8 mil anos, podem ser feitas com dois tipos de farinha: de trigo (o branco, clássico) e de trigo sarraceno (escuro, o soba japonês), uma espécie de trigo de origem asiática que chegou à França com as Cruzadas, na Idade Média.

Na França, os crepes e as galettes são pratos típicos da Bretanha, região do Noroeste do país, onde eles são consumidos desde o século 13. São também a refeição típica da Chandeleur (Candelária; “candela” é luz), também conhecida como a festa dos crepes, uma festa católica que celebra a apresentação do bebê Cristo (que era “a Luz”) ao templo e que é comemorada todo dia 2 de fevereiro (parece que o papa Gélasio I, lá nos anos 490, distribuía crepes aos peregrinos que chegavam a Roma). Nesse dia, as casas deveriam acender todas as suas velas, e até hoje, os franceses comem crepes para comemorar a data.

Na Bretanha, o crepe é tão parte da identidade local que ela é a única região da França em que o número de crêperies ultrapassa o número de cafés. O costume é se reunir com amigos para bater papo comendo crêpes e galettes e tomando sidra (“cidre”, em francês), uma bebida alcoólica feita a partir do sumo fermentado das maçãs; bastante popular na Bretanha e na Normandia. Mas esqueça os copos ou taças: a sidra é tomada nas bolées, um tipo de xícara grande de porcelana. {Clique aqui para entender a diferença entre sidra e cidra.}

E QUAL A DIFERENÇA ENTRE CRÊPE E GALETTE ?

Apesar de terem basicamente os mesmos ingredientes e serem preparados da mesma forma, a crêpe é feita com farinha branca e é sempre comida com acompanhamentos doces, nem que seja apenas açúcar e um pouquinho de limão. Já a galette é feita com trigo sarraceno, o trigo escuro, integral, e é comida sempre como prato salgado.

Mas, na França, as coisas sempre podem complicar mais um pouquinho, já que as tradições muito bem definidas de cada região andam de mãos dadas com o orgulho dos seus habitantes. E a atípica história da Bretanha, colonizada pelos bretões (da atual Inglaterra) desde o século 4 e só anexada à França no século 16, dá ainda mais pano pra manga.

Existe uma divisão não-política na Bretanha, que não tem nada que ver com os departamentos oficiais que formam a região (Côtes-d’Armor, Morbihan, Finistère, Ille-et-Vilaine): a Haute-Bretagne (a Alta-Bretanha), a leste, cuja população abandonara o idioma bretão e adotara o galês; e a Basse-Bretagne (Baixa-Bretanha), a oeste, onde se falava o bretão (“breizh ” que quer dizer Bretanha em bretão é o nome da melhor crêperie de Paris, clique aqui para saber mais).

GALETTE DE SARRASIN x CRÊPE DE BLÉ NOIR

É da Haute-Bretagne, dos bretões do leste, que vem a galette de sarrasin, mais grossa, mais mole, com buracos na superfície, feita apenas com farinha, água e sal (às vezes, adiciona-se um pouco de sidra), assada só de um lado e comida sempre salgada, recheada com queijo, presunto e ovo.

Na Basse-Bretagne, dos bretões do oeste, apesar de a receita ser feita também com trigo sarraceno, eles a chamam de crêpe mesmo: crêpe de blé noir (crepe de trigo preto) e não deve ser confundida com a galette de sarrasin da Haute-Bretagne. Nesta receita, junto com a farinha de trigo sarraceno, são adicionados ovo, leite e farinha de trigo (para amaciar a textura e melhorar o sabor). A massa é bem fina, crocante, assada dos dois lados, quebradiça quando pronta e tem uma superfície lisa.

crepe-e-galette-diferenca
galette

Dessa forma, quando se trata de crepes salgadas na Bretanha, o bretão do leste come galette  e o bretão do oeste come crêpe. A diferença básica é que os crepes são feitos com farinha branca e são comidos com acompanhamentos doces, como na foto acima, e as galettes são feitas com trigo sarraceno e comidas como pratos salgados, como na foto abaixo.

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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