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#SomosTodosRacistas

Posta foto comendo banana com a hashtag #SomosTodosMacacos (não vou NEM comentar a #VergonhaAlheia do oportunismo do tal apresentador da Globo), mas acha que a empregada é uma folgada e não entende como empregadas podem ficar doentes no dia em que ela organizou um jantar (tampouco entende por que um pobre pode querer uma TV de LED em casa e querer se divertir: QUANTA ousadia). Se o filho aparece namorando uma negra, então… = #SuicídioSocial). Fala mal do Brasil, que quer ir embora deste país de m***a, mas, ah, detesta política. É tudo culpa do PT, do Lula, do mensalão, da Dilma, da Copa — mas sonega imposto de renda, falsifica carteira de estudante pra pagar meia e só pensa em aproveitar a vida —, como se a pobreza e a desigualdade social existissem no Brasil há apenas 12 anos (just for the record, esses DOIS ÍNDICES pelo menos melhoraram BASTANTE nos últimos anos). Vou morar em Paris, em Nova York, Londres, Copenhague (claro, por que eu iria querer viver em Quito, Vienciana ou Luanda? que o Brasil se exploda! vou para um país que me merece! *vulgo países que já passaram por esses processos, dificuldades, revoluções, quando seus CIDADÃOS NÃO FUGIRAM para um país “melhor”*), mas nunca saiu do circuito turístico e não conhece a realidade dos banlieues  e dos outskirts nem se lembra que há apenas vinte anos Nova York era tão perigosa quanto São Paulo (ninguém tinha coragem de andar à noite na rua, nem na Times Square); e que TODOS os países do mundo têm seus problemas. Comuns para quem lá nasceu; difíceis para a nossa adaptação. Vou adorar ver você, como uma IMIGRANTE DO TERCEIRO MUNDO, vivendo em um país de primeiro (você sabia que pra mim, culturalmente brasileiro, é MUITO DIFÍCIL ser tão disciplinado e produtivo e organizado e inteligente quanto um alemão ou japonês?), longe da família e dos amigos, precisando do Medicare quando ficar doente ou deixando milhares de dólares no hospital quando fraturar um simples braço. Dá vontade de reclamar da mediocridade dos brasileiros — famosos e anônimos — nas redes sociais, mas como mediocridade existe em qualquer tempo e em qualquer lugar do mundo, só resta esperar que as pessoas passem a aproveitar melhor seu tempo refletindo um pouco mais sobre si mesmas e, quem sabe, um pouco mais sobre história, política e economia; sobre o mundo e as pessoas.  Pelo menos, a imagem que temos delas não sairia tão arranhada.

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

Ccidadao2010 disse:

Para que tanta raiva, rapaz. Não precisa assirtir ao tal apresentador, desligue a TV e vá para Estocolmo, mas entenda por que eles tem por mérito a qualidade de vida e a segurança por lá e nós ainda não. Dar esmolas não reverte o futuro da nação, apenas garante o seu atraso.

Ccidadao2010, posso garantir, pela história, que os norte-americanos que reinventaram a república ou os franceses que contribuíram tanto para o mundo como o conhecemos hoje não foram embora dos seus países quando a situação estava feia. A questão é: como, nós, a elite do país, podemos nos mobilizar e sermos, como o seu nick diz, cidadãos mais solidários com o país e menos egoístas pensando apenas nas férias? Obrigado pelo seu comentário.

Mauro disse:

Entrei no site pra ver a matéria achando que ia ler sobre racismo e a questão da banana e leio alguém ofendendo quem deixa ou tem vontade de deixar o Brasil, com uma certa ponta de frustração e de preconceito para com essas pessoas, na maior parte do texto. Ok, impressão minha ou ele chama os brasileiros que deixam o país de racistas porque não aceitam, não se conformam ou não conseguiram uma vida confortável no Brasil e tentam a vida em outro país? Sim, essas pessoas sabem que a vida no estrangeiro não será nada fácil. Segundo o autor não será porque são culturalmente brasileiros e de terceiro mundo (racismo aqui? complexo de inferioridade?) Bem, se vão é porque acreditam que compensa, pois no Brasil também não é nada fácil. Ou ele tá falando dos ricos que podem viver fora, usufruindo do que há de melhor no primeiro mundo que em nada se compara com o Brasil? Quem em sã consciência prefere morar no Brasil ou em Nova York, Londres, Madri etc, tendo o poder de escolha? Vc, autor desse texto? Sem ser pessimista, mas sendo realista, as coisas no Brasil vão bem ruim. Os outros lugares não são apenas flores mas bem melhor que aqui, em alguns aspectos que não preciso citar. Só ler e ouvir falar todos os dias nessa corrupção já dá vontade de fugir pra um lugar onde as pessoas não são deliberadamente feitas de palhaços, concorda? Ok, fugir é feio, legal é ficar e ajudar. Fazer algo para que a situação melhore. Postar besteiras vazias em facebook, instagram etc, em nada ajuda, as vezes até piora, concordo, só vejo hipocrisia por aqui. O grande problema que se ver no Brasil é que por mais que vc faça a sua parte corretamente e até com vontade de ajudar, vc sempre será passado pra trás. Será que anos e anos sabendo disso não cansa? E será por isso que as pessoas vão embora e não estão nem aí pra situação do Brasil? Um país altamente desestimulador e controlador. Se vc é funcionário público, não passará disso, embora tenha garantias e segurança. Se é empreendedor ou empresário enfrentará burocracias e impostos dos mais altos do mundo, além de driblar o mercado. Se é artista não tem espaço. Se é profissional liberal tem que ralar muito, mais muito mesmo. Se é assalariado, terá um salário mínimo ridículo e 30 dias de férias por ano. Férias que dificilmente vc vai aproveitar, fazer uma viagem ou se divertir, pois o dinheiro é contado. E viajar no Brasil é extremamente caro. Seja dentro do Brasil ou pra fora, nunca vi passagens e custos tão altos. Escolheria nascer aqui ou no primeiro mundo? Viver aqui ou lá? Chega de hipocrisia. O Brasil tá repelindo os brasileiros.

Prezado Mauro, este site é bastante “autoral-pessoal” e concordo com você com a minha falta de foco. rs Mas uni duas experiências que estava percebendo na minha semana: um amigo indo morar em NY, uma conhecida voltando de Estocolmo e a questão da “banana”. O que quis dizer com o texto é que nós, que somos os afortunados por termos tido acesso à educação, temos acesso aos livros, à cultura, às viagens, pouco ou nada fazemos. Não agimos como cidadãos, apenas como consumidores. Cada vez mais e só consumidores. Em todos os países que gozam hoje de maior conforto, passaram por dificuldades, revoluções, grandes crises. Mas seus povos foram os responsáveis pelas mudanças; nunca nada fáceis. E o que, nós, 1% da população vamos fazer? Fugir para o “Primeiro Mundo”? Foi apenas uma reflexão, talvez bem desorganizada. Obrigado pelo comentário.

Graziela disse:

Olá, Shoichi, apenas gostaria de dizer que achei seu texto-desabafo muito bacana. Quem dera mais pessoas (que podem e tiveram oportunidade de poder) escrevessem assim (em todos os sentidos, inclusive em relação ao texto-em-si, mas, sobretudo, pelos pensamentos embutidos)!
Quem dera quem morasse ou passasse qualquer tempo “fora” (é tao difícil sair do seu eu-país, seu “si” minúsculo e mesquinho), não apenas comparasse alhos com bugalhos, sem, como você bem escreveu, “aproveitar melhor seu tempo refletindo mais sobre si mesmas, e, quem sabe, um pouco mais sobre história, política e economia”, e percebesse que Estocolmo não é nenhum El Dorado e que o inferno está longe de ser os outros…
eu poderia falar sobre a desqualidade de vida dos países nórdicos, de quantos imigrantes são abusados nas belíssimas Londres, Nova Iorque ou Paris (há alguns filmes ótimos sobre esse tema), sobre receber herança versus “dar esmola”, sobre as diversas pesquisas sérias (são internacionais! = são confiáveis!) que demonstram o quanto o Brasil melhorou nos últimos 11 anos, sobre colonialismos, neocolonialismos, genocídios e guantánamos norte-americanos, franceses e incontáveis afins, e que “o que há de melhor no ‘primeiro mundo'” e “uma vida confortável” foram e são conquistados em grande parte à custa de muita exploração e subjugação econômica, política, cultural, ideológica… justamente de países como o repelente Brasil… mas, usando um clichêzão, “o pior cego é aquele que não quer ver”… ler, ouvir…
enfin… (com sotaque francês, porque é chique!) obrigada por proporcionar uma leitura sagaz.
Um abraço,
g.

Graziela, muito obrigado pelo comentário e por ter levantado várias das questões importantes que as pessoas parecem esquecer quando emitem suas opiniões. E eu penso exatamente isso quando olho para a família real inglesa, por exemplo. Tão lindos, tão cultos, tão sofisticados… Mas foi uma fortuna e uma história construída sobre muitos saques, muitas mortes, MUITA coisa FEIA. rs E o que me move é que o nosso povão é muito bom. Você viu a notícia de que quase 1,7 milhão de famílias saíram ESPONTANEAMENTE do Bolsa-Família porque eles aumentaram sua renda? Duvido que a nossa classe média (não digo por renda, mas sim por comportamento conservador) abririam mão de uma rendinha extra. Grande abraço!

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