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Minha vida Secreta

O Secret começou no Brasil como uma baixaria só (talvez por isso tenha se tornado popular e feito o app se tornar conhecido tão rapidamente). Muitas pessoas se aproveitando do anonimato para expor — difamando, claro — seus desafetos. Mas parece que depois das reportagens sobre os primeiros processos judiciais contra o aplicativo (e as pessoas se esqueceram de que a conta é vinculada ao seu perfil no Facebook, o que faz com que não seja muito difícil descobrir o autor de uma mensagem caso a Justiça assim o queira) e das constantes mensagens de “be kind” e “report violation” do próprio Secret, a paz reina no aplicativo que tem como objetivo fazer com que nós possamos compartilhar nossos mais secretos sentimentos sem expor a identidade.

O primeiro post é geralmente alguma platitude: uma opinião amena, uma frase engraçada… Mas daí em diante, assim como acontece comigo com pimenta, a experiência vai num crescendo, a gente vai querendo testar nossos limites. Começamos a perder os bloqueios que separam o pensar e o falar/escrever (e, aí, a gente percebe o QUANTO nos censuramos, nossa). Vai dando um certo nervosismo de estar expondo uma intimidade — que muitas vezes nem contamos para os nossos mais íntimos ou nem falamos em voz alta para nós mesmos, seja por orgulho (fui rejeitado, traído, trocado) ou vergonha (complexos, fantasias, fetiches, hábitos) — e obtendo feedback de “amigos”, “amigos de amigos” e estranhos que a gente nunca vai saber quem são. (A propósito, talvez por que o assunto “coco” ter sido sempre tabu, é impressionante a quantidade de posts escatológicos no aplicativo. E sempre fico imaginando se não é uma garota super delicada a autora do texto.)

Ler o feed e perceber que muitos dos segredos dos outros são nossos e constatar que não expomos NADA desse(s) lado(s) no Facebook ou no Instagram também é interessante. A dinâmica da “fama” do Secret é oposta às outras redes sociais. Por mais que o seu post seja popular (ele é divulgado para mais e mais pessoas conforme você vai recebendo curtidas e comentários), a popularidade não se reverte para o criador; você não vai conseguir followers, as pessoas não vão saber quais são seus outros posts; é uma relação pura com aquele conteúdo específico.

Das coisas mais banais e engraçadas a relatos de pessoas sofrendo com amor, com álcool, com drogas, com solidão, com doenças graves e medos mil. Pessoas apaixonadas pelo melhor amigo; o jovem que estava saindo de casa para contar ao namorado (após um mês de namoro) que era soropositivo e foi narrando “ao vivo” o desenrolar da história (e eu acompanhando, o que parecia uma novela da vida real, muito mais genuína que os reality shows); funcionários de grandes empresas divulgando informações confidenciais da organização; casos de família (enquanto escrevo esse texto, acabei de ler “minha irmã é um monstro, apesar de parecer a pessoa mais doce do mundo”) e preconceitos expostos à luz da tela do celular (nunca ditos socialmente). Tudo se vê no Secret.

Para acessar o Secret pelo browser (é preciso fazer cadastro), clique aqui. Para ver alguns “secrets”, você pode acessar o tumblr Os Melhores Secrets, clicando aqui. #NSFW

Shoichi Iwashita

Compulsivo por informação e colecionador de moleskines com anotações de viagens e restaurantes, Shoichi Iwashita se dedica a compartilhar seu repertório através das matérias que escreve para a Simonde e revistas como Robb Report Brasil, TOP Destinos, The Traveller, Luxury Travel e Unquiet.

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